terça-feira, 31 de maio de 2011

Dois Capítulos!

Oba! Estou feliz demais que a editora vai publicar e que vocês curtiram a promoção que vou até me empolgar e postar dois capítulos!!!!



3
Greg
                Quando estava indo até o quarto para falar com ela, vi a porta entreaberta e olhei bem devagar, evitando fazer barulho. Ela estava sentada na cama, lendo alguma coisa meio antiga e depois da frase que disse e o choro repentino, consegui mais ou menos entender o que se passava com ela. O namorado tinha morrido. Vê-la daquele jeito me partiu o coração, mas o que eu poderia fazer? Lizzie era muito fechada e isso só poderia ser mudado aos poucos. Ela realmente deve precisar de um amigo para apoiá-la e ouvi-la, mas onde será que estão? Essa solidão também era obra dela ou todos que ela amava tinham a abandonado? Voltei para a sala e “tentei” ignorar o que se passava naquele quarto. Tentei.
         Ela saiu do quarto horas depois e com os olhos meio inchados, passando direto por mim e indo até a cozinha. Tive medo de me aproximar, não queria fazê-la sofrer perguntando do passado.
- Lizzie. – disse enquanto ela voltava para o quarto.
- Oi.
- Será que você podia ir comigo até a secretaria para acertar minha primeira aula?
- Gregory, não estou muito bem, me desculpa.
- É que não conheço nada aqui... por favor. – ela ficou um tempo parada olhando pra mim.
- Tudo bem. Me dá um minuto para colocar uma roupa. – não a conhecia nem a um dia, mas queria tentar ajudá-la de todas as formas.
         Lizzie apareceu pouco tempo depois com um vestido abaixo dos joelhos, uma sandália sem salto e seus cabelos continuavam presos. Fomos andando pelo campus até chegarmos onde eu precisava. Trocamos poucas palavras, mas sei que a fiz sorrir uma vez. Tentei por mais uma vez descobrir o que tinha acontecido, mas vi que teria que conquistar sua confiança antes de qualquer coisa.
         O domingo passou voando. Saí com alguns amigos que tinha lá e ela não quis vir comigo. Respeitei, mas até que foi bom. Só tinha homem e fiquei com uma mulher por lá. Fiquei na boate até onde pude. Minha primeira aula seria às onze da manhã, então cheguei ao dormitório as duas da madrugada. Mal entrei e derrubei algo sem querer no chão. Não era minha intenção acordá-la.
- Greg, é você? – ela apareceu na sala
- Desculpa, quebrei alguma coisa. Você tirou meus travesseiros do sofá?
-É.. é que não acho certo você dormir nesse sofá duro enquanto tem duas camas de solteiro no quarto. – pela primeira vez senti diferença em sua voz.
- Mas não será um incomodo pra você se eu ficar lá?
- Não, uma hora ou outra alguém teria que dividir o dormitório comigo.
- Mas o problema é que não sou uma mulher.
- Tudo bem. Vou voltar para a cama. Minha aula é às nove. Boa noite.
- Boa noite e obrigado.
         Peguei uma roupa na mala e fui direto para o banheiro tomar uma ducha gelada. Precisava. Não sei como seria ficar no mesmo quarto que ela, mas realmente era melhor dormir na cama que no sofá. Coloquei o pijama e fui entrando no quarto bem devagar, com medo de acordá-la. Ela estava com o abajur ligado e lendo um livro. Coloquei a toalha presa na janela.
- Você não tem aula amanhã?
- Tenho. – ela permaneceu com os olhos nas páginas.
- E não está dormindo por quê?
- São poucas as noites que consigo dormir inteiras.  Vou lá pra sala para não te atrapalhar com a luz. – ela estava retirando o edredom para sair, mas a impedi.
- Não, não precisa disso.
- Não quero te atrapalhar...
- Não esqueça que eu cheguei aqui depois de você. – sorri para ela e a percebi encabulada. Tentei quebrar o gelo. – E aí, o que você está cursando?
- Jornalismo, e você?
- Arquitetura.
- Falta quanto tempo para você se formar?
- Três anos, e pra você?
- A mesma coisa.
- Então vamos nos formar juntos.
- Acho que sim... – ela voltou a ler enquanto eu me deitava na outra cama.
- Estou te atrapalhando?
- Atrapalhando?
- É, falando feito uma matraca.
- Não está não, é que ainda é estranho ter alguém aqui comigo.
- Sempre ficou sozinha?
- Você deve me achar uma tremenda estranha, mas eu não era assim. – e eu já desconfiava o que seria, mas não poderia perguntar. – Sei lá, muita coisa mudou pra mim.
- O que te aconteceu, Lizzie?
- Não se sinta mal, mas eu ainda não consigo falar isso com ninguém. Nesses anos, me privei de falar e ter amigos, por isso fiquei dessa forma.
- Mas pode ter certeza que eu sou seu amigo e estarei aqui quando você quiser falar.
- Obrigada, de verdade.
- Bom, mas agora você vai dormir porque tem aula amanhã de manhã, mocinha. – me levantei, tirei o livro de suas mãos e o coloquei na mesa de cabeceira. Passei a mão em sua testa e ela estremeceu meio surpresa. – Boa noite.
- Não vou conseguir dormir.
- Tenta. – acariciei bem devagar suas bochechas e ela deu um leve sorriso.
- Vou tentar. Boa noite.
- Pra você também. – anjo.












4
        Ela dormiu muito bem depois que praticamente a obriguei. Lizzie realmente parecia um anjo, e um anjo bem triste. Sabia só que ela tinha perdido o namorado, mas como, não tinha a mínima ideia. Aquelas fotos mostravam uma Elizabeth que não era essa que eu via. Desde o inicio me identifiquei com ela e sei lá como, me senti bem. Queria poder ajudá-la a voltar a viver e, pela primeira vez, consegui que falasse pelo menos poucas palavras. Virei para o lado, coloquei o despertador no meu celular e dormi.

Lizzie
        Pela primeira vez, falei algo do meu passado para uma pessoa... o estranho é que me sentia bem depois dessa situação. Muita gente tentou se aproximar de mim, mas eu sabia que era somente por pena. Gregory me conheceu sem saber da minha história e de minhas perdas, por isso senti confiante em relação a ele. Quando meu despertador tocou, ele ainda dormia. Caminhei pelo quarto bem de leve para não o acordar e acabei não resistindo e reparei em como dormia. Uma mão estava atrás da cabeça, apoiada no travesseiro e a outra sobre o peito. Pela sua face, parecia estar cansado da saída de ontem. Peguei um dos meus vestidos, as velhas sandálias sem salto e fui para o banho. Meus cabelos estavam tão grandes que estavam quase chegando a minha cintura. Não cortara desde o incidente. Me arrumei, prendi minhas madeixas em um rabo de cavalo e preparei um rápido café da manhã – para mim e para ele. Teria inúmeras aulas até duas da tarde.

Greg
        Dormi tão bem... mas meu bom humor acabou quando vi que era quase uma hora da tarde e eu tinha perdido uma aula... que ótimo.  Olhei para a cama desarrumada de Lizzie e percebi que ela tinha saído há muito tempo e se bobear, já estaria chegando. Fui até a cozinha beber um copo d’água e vi que ela tinha feito café da manhã para mim. Sem pestanejar, comi tudo e fui para a sala ver um pouco de TV. Quando enjoei, desliguei tudo e fui tomar um banho. Minha cabeça estava doendo um pouco por causa da bebida.  Fiquei bastante tempo relaxando. Enrolei a toalha na cintura e fui para o quarto.
- Lizzie! – tomei um susto e ela também.
- Desculpa, Gregory. – ela se virou de costas, completamente envergonhada. – Não sabia que você estava em casa.
- Estava no banho. – peguei rapidamente minha cueca e bermuda e coloquei. – Já estou vestido. – ela se virou e deu uma pequena olhada para meu abdômen, mas deslocou seu olhar para meus olhos.
- Não foi para a aula hoje?
- Perdi a hora. Não era pra isso ter acontecido.
-Entendi... está com fome?
- Não, acabei de tomar o café da manha que você fez pra mim. Obrigado.
- Não foi nada... já te falei que tenho que fazer pra mim também, então não se preocupa com isso. Eu trouxe pizza de almoço, não tava com vontade de cozinhar.
- Deixa eu pegar dinheiro pra te pagar.
- Que pagar o que, Greg. Eu comprei aqui perto e quem faz faculdade aqui, tem desconto. Peguei de quatro queijos porque não sabia o sabor que você gostava.
- Adoro a de quatro queijos. Fiquei com fome agora. – ela riu.
- Você é engraçado.
- Essa é a primeira vez que te vi sorrir.
- Isso não é muito comum.
- Então meu passatempo será fazer você sorrir. – olhei no fundo dos seus olhos e percebi certo medo. Recuei.
         Enquanto comíamos, conversamos sobre várias coisas, menos seus problemas. Contei de onde eu morei, o porquê que sai da outra faculdade e dos meus sonhos. Ela também revelou o que queria para o futuro e a vi sorrir por mais algumas poucas vezes. Lavei a louça e ela sentou no sofá com o mesmo livro que estava lendo ontem.
- O que você anda lendo?
- Só um romance água com açúcar.
- Posso ligar a TV?
- Pode, claro.

Lizzie
        À tarde com ele foi bem agradável. Consegui rir de certas coisas pela primeira vez em anos. Greg era um bom amigo e me surpreendi com o pouco tempo que tínhamos nos conhecido e transformamos isso para o inicio de uma boa amizade. Com livros daquele gênero, conseguia me transportar para o lado do Brad e isso me fazia bem. Gregory ficou vendo um filme e, depois de um tempo, o acompanhei. Me deu uma angústia de lembrar que amanhã faria mais um mês desde a tragédia, mas nessa data, aparentemente não estaria sozinha. Acho que estava na hora de eu revelar o que tinha me acontecido. Sentia confiança nele o suficiente para desabafar.
- Greg...
- Oi. – ele abaixou o volume da TV.
- Lembra que você perguntou o que tinha acontecido comigo?
- Sim, claro que eu lembro...
- Acho que tá na hora de te contar. – ele desligou a TV e sentou ao meu lado, no chão.
- Se sente bem o suficiente para isso?
- Eu... acho que sim.
- Não precisa me contar...
- Eu quero te contar. Me sinto bem para isso. Há mais ou menos dois anos, quando eu voltava da formatura do colégio, um cara que estava bêbado e dirigindo, bateu no carro que eu estava. Eu não lembro muito bem o que levou o cara a bater e as únicas lembranças que tenho, não são muito boas. – senti meus olhos doerem com as lágrimas.
- Lizzie...
- Não se preocupa, eu estou bem. Lembro que olhei para lado e vi Brad, meu namorado, sangrando e sem reação. Eu queria poder acordar daquele pesadelo, queria poder correr, sumir dalí, mas isso não aconteceu. Dentro desse carro estavam os meus amigos, os mais importantes e ele, o homem que eu mais amava no mundo inteiro. Fiquei meses no hospital para cuidar de um coágulo que tive no pulmão e quase perdi minha perna. Sofri muito, coisa que nunca pensei que pudesse acontecer comigo. Eu era feliz, Greg. Tinha boas notas, bons amigos, um bom namorado e por incrível que pareça, fazia até parte da equipe de ginástica. Depois que eles morreram, a minha vida também acabou. Eu queria ter morrido com eles, queria estar do lado das pessoas que eu amava. – quando terminei de falar, percebi que estava chorando.
- Não fale isso nunca. Você acha que seus amigos estão bem te vendo assim? Você acha que o Brad está?
- Todos falaram que foi um milagre eu ter sobrevivido, mas pra mim não foi. Depois que eles se foram, me fechei nessa pessoa amarga e que não tem uma vida. Por que tudo que eu amava me foi tirado dessa forma? – ele estendeu o braço sobre meu ombro e encostei minha cabeça em seu peito, chorando.
- Tem coisas na vida que infelizmente não podemos explicar, mas você não pode se culpar por isso. Sei que todos eles serão insubstituíveis na sua vida, mas você não pode parar de viver. Você é nova e tem muita coisa para fazer, muita coisa pra aprender e tem que se feliz. Eles não querem ver você triste, isso posso ter certeza.
- Eu não quero amar outro homem a não ser o Brad, Greg. Eu não consigo. Simplesmente não dá.
- Você é linda Lizzie, não pode pensar nessas coisas. Você precisa de alguém para te apoiar e tendo outra pessoa, você não estará traindo o Brad. Ele sempre será importante pra você e qualquer homem que esteja ao seu lado, terá que entender isso. Obrigado por ter confiado em mim. O que eu puder fazer para te deixar feliz, vou fazer.  Isso eu te prometo.
- Eu tenho medo. Medo de me apegar a alguém e ela me deixar de alguma forma. Eu não aguento mais uma perda, não aguento. – chorei mais e ele me abraçou forte.
- Eu não vou te abandonar nunca. Eu te prometo.
- Ele também tinha me prometido isso... – chorei mais.
- Vem, vou levar você pro quarto. – ele levantou enquanto eu secava minhas lágrimas e me pegou no colo com muita facilidade.
- Greg... – queria dizer que isso não era necessário, mas ele me interrompeu.
- Vou cuidar de você.
- Greg...
- Shhh. Pare de se preocupar.
         Gregory me colocou na cama e sentou ao meu lado, pondo minha cabeça em seu colo, distribuindo carinhos no meu longo cabelo e em minha face. Essa proximidade não era uma coisa que eu estava acostumada. Eu nunca quis receber carinho de ninguém. Me fechei em um casulo imperfurável, um casulo em que viviam somente eu e minhas lembranças. Senti minhas lágrimas serem cessadas e comecei a me sentir mais confortável naquela situação. Me sentia confusa em me apegar a outra pessoa como um amigo. Eu mesma optei por não me aproximar de ninguém, mas com ele eu me sentia bem o suficiente para tentar esquecer o que me fazia sofrer. 



O que acharam?? 
OBS: quem não conseguir comentar, comente como "Anômimo" e coloque seu nome, junto do comentário!
Grande beijo
Rafaela Guimarães

Um comentário:

  1. HAHAHAHAHHAA vim aqui pra ver se você tinha postado mais algum capítulo e perecebi que o meu comentário não tinha entrado, então aqui estou! :D Aaaah, estou adorando a história! Preciso do 5º capítulo! *o* Parabéns, sister! <3

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